sábado, 30 de novembro de 2013

Essa Nega Fulô - Jorge de Lima


Cântico negro - Maria Bethânia


PERIGO! Conselho Nacional de Educação CENSURA Lobato!

 


Quem paga a música escolhe a dança?

Marisa Lajolo*


“Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, está em pauta e é bom que esteja, pois é um livro maravilhoso.

Narra as aventuras da turma do sítio de Dona Benta primeiro às voltas com a bicharada da floresta próxima e, depois, com uma comissão do governo encarregada de caçar um rinoceronte fugido de um circo. Nos dois episódios prevalecem o respeito ao leitor, a visão crítica da realidade, o humor fino e inteligente.

Na primeira narrativa, a da caçada da onça, as armas das crianças são improvisadas e na hora agá não funcionam. É apenas graças à esperteza e inventividade dos meninos que eles conseguem matar a onça e arrastá-la até a casa do sítio. A morte da onça provoca revolta nos bichos da floresta e eles planejam vingança numa assembleia muito divertida: felinos ferozes invadem o sítio e – de novo – é apenas graças à inventividade e esperteza das crianças (particularmente de Emília) que as pessoas escapam de virar comida de onça.

Na segunda narrativa, a fuga de um rinoceronte de um circo e seu refúgio no sítio de dona Benta leva para lá a Comissão que o governo encarregou de lidar com a questão. Os moradores do sítio desmascaram a corrupção e o corpo mole da comissão, aliam-se ao animal cioso da liberdade conquistada e espantam seus proprietários. E, batizado Quindim, o rinoceronte fica para sempre incorporado às aventuras dos picapauzinhos.

Estas histórias constituem o enredo do livro que parecer recente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de denúncia recebida, quer proibir de integrar acervos com os quais programas governamentais compram livros para bibliotecas escolares . O CNE acredita que o livro veicula conteúdo racista e preconceituoso e que os professores não têm competência para lidar com tais questões. Os argumentos que fundamentam as acusações de racismo e preconceito são expressões pelas quais Tia Nastácia é referida no livro, bem como a menção à África como lugar de origem de animais ferozes.

Sabe-se hoje que diferentes leitores interpretam um mesmo texto de maneiras diferentes. Uns podem morrer de medo de uma cena que outros acham engraçada. Alguns podem sentir-se profundamente tocados por passagens que deixam outros impassíveis. Para ficar num exemplo brasileiro já clássico, uns acham que Capitu (D. Casmurro, Machado de Assis) traiu mesmo o marido, e outros acham que não traiu, que o adultério foi fruto da mente de Bentinho. Outros ainda acham que Bentinho é que namorou Escobar ... !

É um grande avanço nos estudos literários esta noção mais aberta do que se passa na cabeça do leitor quando seus olhos estão num livro. Ela se fundamenta no pressuposto segundo o qual, dependendo da vida que teve e que tem, daquilo em que acredita ou desacredita, da situação na qual lê o que lê, cada um entende uma história de um jeito. Mas essa liberdade do leitor vive sofrendo atropelamentos. De vez em quando, educadores de todas as instâncias – da sala de aula ao Ministério de Educação – manifestam desconfiança da capacidade de os leitores se posicionarem de forma correta face ao que lêem.

Infelizmente, estamos vivendo um desses momentos.

Como os antigos diziam que quem paga a música escolhe a dança, talvez se acredite hoje ser correto que quem paga o livro escolha a leitura que dele se vai fazer. A situação atual tem sua (triste) caricatura no lobo de Chapeuzinho Vermelho que não é mais abatido pelos caçadores, e pela dona Chica-ca que não mais atira um pau no gato-to. Muda-se o final da história e re-escreve-se a letra da música porque se acredita que leitores e ouvintes sairão dos livros e das canções abatendo lobos e caindo de pau em bichanos. Trata-se de uma ideia pobre, precária e incorreta que além de considerar as crianças como tontas, desconsidera a função simbólica da cultura. Para ficar em um exemplo clássico, a psicanálise e os estudos literários ensinam que a madrasta malvada de contos de fada não desenvolve hostilidade contra a nova mulher do papai, mas – ao contrário – pode ajudar a criança a não se sentir muito culpada nos momentos em que odeia a mamãe, verdadeira ou adotiva...

Não deixa de ser curioso notar que esta pasteurização pretendida para os livros infantis e juvenis coincide com o lamento geral – de novo, da sala de aula ao Ministério da Educação – pela precariedade da leitura praticada na sociedade brasileira. Mas, como quem tem caneta de assinar cheques e de encaminhar leis tem o poder de veto, ao invés de refletir e discutir, a autoridade veta. E veta porque, no melhor dos casos e muitas vezes com a melhor das intenções, estende suas reações a certos livros a um numeroso e anônimo universo de leitores.

No caso deste veto a “Caçadas de Pedrinho”, a Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes acolhe denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende como manifestação de preconceito e intolerância "de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas; (...) aponta menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado e exige da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura".

Independentemente do imenso equívoco em que, de meu ponto de vista, incorrem o denunciante e o CNE que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.

O que a nota exigida deve explicar? o que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma autocrítica (autoral, editorial?) assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que “Caçadas de Pedrinho” é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?

As questões poderiam se multiplicar. Mas não vale a pena. O panorama que a multiplicação das questões delineia é por demais sinistro. Como fecho destas melancólicas linhas maltraçadas aponte-se que qualquer nota no sentido solicitado – independente da denominação que venha a receber, do estilo em que seja redigida, e da autoria que assumir – será um desastre. Dará sinal verde para uma literatura autoritariamente auto-amordaçada. E este “modelito” da mordaça de agora talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública, número medonho mas que de vez em quando entra em cartaz na história desta nossa Pátria amada idolatrada salve salve. E salve-se quem puder ... pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê!

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* Prof. Titular (aposentada) da UNICAMP; Prof. da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pequisadora Senior do CNPq.; Organizadora ( com João Luís Ceccantini) do livro Monteiro Lobato livro a livro (obra infantil), obra que recebeu o Prêmio Jabuti 2010 como melhor livro de Não Ficção.

 

 

A defesa de Lobato contra o parecer do CNE

Há algumas postagens atrás publicamos um texto de Marisa Lajolo criticando o parecer do Conselho Nacional de Educação vetando Caçadas de Pedrinho nas escolas brasileiras. Publicamos agora uma bem humorada resposta à prática do "politicamente correto" feita (acreditem!) pelo autor, lá do além, após muito ter se revirado na tumba...


REINAÇÕES DE POLITICAMENTE CORRETINHO
Não sei se vocês leram que o Conselho Nacional de Educação (CNE) pediu que meu livro, Caçadas de Pedrinho, fosse retirado das escolas. Motivo? No entender do órgão, algumas frases da história são racistas, especialmente as relacionadas à personagem Tia Nastácia. Como medida conciliatória, alguns sugeriram a inclusão de uma nota explicativa sobre o contexto histórico em que o livro foi escrito, de tal forma a evitar que esse clássico da literatura infanto-juvenil deixe de circular entre os estudantes brasileiros.

Minha intenção aqui não é me defender nem tampouco alimentar o fogo dessa polêmica. Meu ponto é outro. Gostei da ideia de introduzir uma nota explicativa. Mas em vez de contextualizar o passado, talvez fosse melhor dedicá-la a contextualizar o presente. Pelo simples fato de que as crianças de hoje perderam bastante da ingenuidade e estão afastadas do convívio com a natureza.

Aquela expressão “tirem as crianças da sala” não faz mais sentido. Elas assistem a tudo na internet. Um adolescente de hoje já viu mais sexo na web do que toda a juventude sueca da década de 70 viu nas famosas revistinhas que circulavam por lá. Qualquer letra de rap ou funk é mais do que suficiente para eliminar as reservas de inocência e pureza naturais da tenra idade. Em compensação, as novas gerações só identificam uma galinha em dois formatos: jpg e bandejinha de supermercado.

Ao reler minha obra sob esse prisma, fiquei preocupado. As histórias seguem boas, mas a narrativa, os nomes dos personagens e dos lugares podem servir de munição pesada para interpretações maliciosas e piadas de duplo sentido. Entendam, quando escrevi minha coleção de livros infanto-juvenis as crianças da idade do Justin Bieber não cantavam sobre amores impossíveis e não assistiam a filmes como Tropa de Elite desacompanhadas dos pais.

Por tudo isso, decidi acatar a sugestão de alguns. Redigi a tal nota de esclarecimento que deve ser incluída nos meus livros infanto-juvenis (se é que isso ainda existe).

Nota de esclarecimento (Nota de esclarecimento sobre o termo esclarecimento. O mesmo foi aqui empregado não no sentido de tornar mais branco, mas sim no de se fazer mais explicado, com mais luz).

A personagem Dona Benta sempre esteve na história original. Ela não foi incluída posteriormente como merchandising de uma conhecida farinha de trigo.

O carinhoso apelido de Narizinho não sugere que tal personagem tem por hábito o consumo de drogas ilícitas pela via nasal. Quem o tem é a Emília, que ganhou vida ao aspirar o tal pó de pirlimpimpim.

Não há nenhuma evidência de que o Visconde de Sabugosa, apesar de falar com grande sabedoria, seja transgênico.

Marquês de Rabicó. Eu sei, é um nome complicado. Pode zoar à vontade.

Não é o que está queimando no cachimbo que faz o Saci pular sem parar. É a falta de uma perna mesmo.

Por fim, Sítio do Picapau Amarelo não é uma menção à propriedade rural de um órgão genital masculino de um oriental. Eu jamais cometeria um pleonasmo como Pica-Pau.

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Postado (do além) por: Monteiro Lobato
Fonte:
http://www.blogsdoalem.com.br/lobato/


Fonte: http://ciberensino.blogspot.com.br/search?updated-max=2010-11-30T09:23:00-08:00&max-results=7&start=14&by-date=false#uds-search-results

A denúncia social do racismo sofrido pelos negros através da na literatura brasileira no Pré-Modernismo

http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/92/limabarretocritica01.pdf


http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=78754



http://bravonline.abril.com.br/materia/monteiro-lobato-e-o-racismo#image=165-capa-racismo-1-g

Lei “humanitária” determinava as condições dos navios negreiros




Escrito por Bruno Hoffmann 

Em vez de brasa, negros deveriam ser marcados por uma coleira.

Um dos símbolos mais perversos da escravidão, os navios negreiros eram um transporte de alto risco para a vida dos escravos – o que não interessava a ninguém. Cada negro morto significava prejuízo. Um alvará com força de lei publicado em 24 de novembro de 1813 regulou sobre as condições de transporte da África para o Brasil, motivado por um “incomparável sentimento de humanidade”.

O alvará proibia a superlotação e determinava que deveria haver boa ventilação nos porões escuros. A marcação dos negros com ferro quente passava a ser proibida, “devendo substituir-se por uma manilha ou coleira”.

Outra mudança era em relação ao cardápio. Antes, os escravos comiam basicamente feijão. Uma vez por semana arroz começaria a fazer parte da refeição. Sem esquecer do milho que, segundo o texto, era um alimento que os negros preferiam a qualquer outro.

Mas o propósito humanitário é desfeito logo adiante: “Da frequente renovação de ar depende a manutenção da saúde dos navegantes. Ainda mesmo o interesse pessoal dos proprietários dos navios, pois não recebem frete pelo transporte de negros que morrem na travessia.”


Fonte: http://www.almanaquebrasil.com.br/curiosidades-historia/7519-lei-humanitaria-determinava-as-condicoes-dos-navios-negreiros.html

Balanço - Carlos Drummond de Andrade



 

A pobreza do eu
a opulência do mundo

A opulência do eu
a pobreza do mundo

A pobreza de tudo
a opulência de tudo

A incerteza de tudo
na certeza de nada

Racismo presente na educação brasileira

Livro debate o racismo presente na educação brasileira Imprimir
20 de novembro de 2013
  É inegável que a escola desempenha um papel importante na desconstrução do preconceito e da discriminação racial. Contudo esse ainda é um cenário utópico pois, na realidade, muitas das desigualdades sociais e econômicas existentes entre negros e brancos são geradas na própria escola. Dois professores do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Rosângela Rosa Praxedes e Walter Praxedes, ampliam as discussões em torno desse tema no livro Por uma escola livre do preconceito e da discriminação racial, que será lançado em janeiro do ano que vem pelas Edições Loyola.  
Segundo os professores, que são integrantes do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros da UEM, “a educação escolar pode ser considerada uma dimensão fundamental das desigualdades entre brancos e negros no Brasil, pois muitas dessas desigualdades se originam nos obstáculos encontrados pelos estudantes negros ao longo de sua trajetória acadêmica para o acesso à educação de qualidade”. É necessário ter em mente que o racismo sofrido dentro do sistema escolar pelos estudantes negros gera consequências danosas para o processo de formação educacional, capacitação profissional e construção da identidade desses sujeitos. O que contribui para reforçar as estatísticas de evasão escolar, cujos índices, em todos os níveis e graus de ensino, referem-se sobretudo a representantes da população já marginalizada de modo geral, em especial os negros.
Walter Praxedes chama a atenção para a importância da adoção das políticas de ações afirmativas em favor da igualdade racial, como a Lei nº 10.639/2003, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo, por exemplo. Além da polêmica reserva de vagas ou cotas para estudantes negros no ensino superior.
O livro também apresenta uma discussão sobre os fatores históricos que contribuíram para a difusão de preconceitos racistas e a exclusão dos negros em todo o País. Nesse debate ele aponta, por exemplo, o processo abolicionista e a política imigratória implementada pelo Estado brasileiro com o intuito de promover o ‘branqueamento’ da população. Ações que tiveram “o apoio de um minoritário, porém influente movimento político e intelectual favorável à eugenia, ora condenando, ora valorizando os processos de miscigenação, sob a alegação da inexistência de preconceitos raciais em um país que pretensamente se construiu como uma ‘democracia racial’, na qual estavam ausentes as relações de animosidade e de violência entre brancos e negros”.
Aspectos teóricos, sociológicos e antropológicos sobre a formação dos preconceitos também permeiam os debates segundo os autores, lembrando que esse olhar se dá a partir de uma crítica à filosofia e às ciências, que em vez de contribuir para a igualdade e a emancipação humanas formulam, difundem ou legitimam um conjunto de representações negativas, preconceituosas e grosseiras sobre os seres humanos através de obras filosóficas, científicas e literárias eurocêntricas pretensamente “universais”.
“Para entendermos os equívocos racistas da educação escolar na atualidade foi necessário, ainda, colocar em nosso percurso uma discussão sobre as especificidades das formas de classificação racial comumente utilizadas no Brasil e que deram origem ao chamado ‘racismo à brasileira’, criticado graças ao trabalho teórica e politicamente consistente de pesquisadores das relações raciais no Brasil”, salienta o autor. Ao apresentar esse cenário o livro deve dar uma contribuição ao que os autores chamam de prática de uma pedagogia antirracista. “Para não sermos cúmplices ou negligentes diante do racismo, temos discutir sobre as concepções e práticas nascidas no passado e que continuam colocando obstáculos para a formação de uma educação emancipadora, livre dos efeitos dos preconceitos e da discriminação”, sintetizam. 

Sugestão: Professora Eliane  Boaventura

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CONSCIÊNCIA NEGRA: LEIS, AÇÕES E INTENÇÕES





Consciência negra: leis, ações, intenções

Talvez, um dia, não precisemos mais de um "dia da consciência negra". Talvez, um dia, o sonho de Luther King – "Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele" – realize-se nas leis, nas ações e nas intenções das pessoas.
Nas leis, evoluímos muito. Não se tolera, no Brasil, nenhum tipo de racismo, de discriminação ou de preconceito. O princípio da igualdade, entre outros, exige que não tenhamos cidadãos de primeira e de segunda classe, sob nenhuma razão. Aliás, não há razão alguma para que alguém se sinta superior ao seu semelhante.
Um outro sonhador, Mandela, nos ensina que: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar".
Ninguém nasce preconceituoso, portanto. Ninguém nasce intolerante. Ninguém nasce para fazer o mal. A reflexão sobre a consciência negra é uma reflexão sobre o respeito. Respeitar o outro me ajuda a viver melhor. É preciso olhar para o passado e ter a consciência do que sofreram nossos irmãos, que ajudaram a construir a nossa identidade. É preciso relembrar os horrores da escravidão para que fatos como esses nunca mais se repitam. É preciso educar as crianças para que elas compreendam o significado da palavra respeito e a beleza do conceito das diferenças. As diferenças não podem ser convertidas em desigualdades; ao contrário, são a prova da genialidade do Criador que nos fez únicos. Unicamente para que nos completemos. E só nos completamos quando compreendemos quem somos e quem são nossos irmãos de jornada.
É da jornada de Zumbi e de Dandara que nos lembramos nessa semana. Líderes que trocaram a vida pelo sonho de que, um dia, não precisaríamos mais falar sobre consciência negra. Ainda precisamos. Ainda há ações a serem feitas para que as intenções sejam sempre corretas.
Por Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 22/11/2013

Fonte: http://www.gabrielchalita.com.br/index.php/o-escritor/textos/item/1768-consci%C3%AAncia-negra-leis,-a%C3%A7%C3%B5es,-inten%C3%A7%C3%B5es.html#

Sugestão: Professor Jocel José de Sousa - Diretor do CEMAP

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A literatura afro-brasileira e seu autor maior: Machado de Assis


Por Elizabeth R. Z. Brose




As noções de literatura afro-brasileira e de literatura negra são discutidas no Brasil há décadas, mas atualmente ainda são consideradas noções em construção no país. Conseqüentemente, os critérios para as seleções de textos literários afro-brasileiros também são variados. Um deles seria o da representação do negro no texto, seja na poesia, em peças teatrais e em narrativas, desde os relatos acerca do Novo Mundo até a literatura contemporânea. Outro critério seria o da cor da pele do escritor que poderia provocar a expressão de uma perspectiva negra e brasileira, caso o escritor assumisse publicamente a sua negritude. Por fim, a proposta deste trabalho é situar a obra de Machado de Assis na discussão sobre literatura afro-brasileira, fundamentando a resposta para essa pergunta nas pesquisas de Eduardo de Assis Duarte, publicadas no livro Machado de Assis: afro-descendente.


Representações do negro em História Geral das Guerras Angolanas: em relatos António Oliveira Cadornega e na transcrição de uma carta da rainha Jinga

O objetivo primeiro da literatura de viagens é revelar todas as informações possíveis sobre os descobrimentos marítimos, tais como: registro de rotas, clima, descrição da costa, enfim, o que possa facilitar as próximas navegações. Além disso, os relatos de viagem esclarecem aos próximos viajantes os caminhos abertos por terra, os habitantes dos lugares desconhecidos, usos, costumes, flora e fauna. Do século XVI, o Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama, atribuído a Álvaro Velho fundamenta  o repertório de textos chamados de literatura de viagens, assim como a Carta a D. Manuel sobre o Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, e História Geral das Guerras Angolanas, de António Oliveira Cadornega. 
Os relatos de viagem do historiador português António Oliveira Cadornega, datam do século XVII e discorrem acerca da colônia africana de Angola. Cadornega chega em 1639 em Angola e escreve as histórias que ouve e os acontecimentos que testemunha, além de transcrever documentos. Militar e negociante, ele coleta  informações que irão auxiliar a milícia e o comércio; e comunica os detalhes de instalações e de seus caminhos como em:  “passado este porto, fortaleza e cidade, está Catumbela das Ostras por haver muitas nesta paragem, e mangais, onde passa hum riacho, que ali mette no mar, vindo da terra dentro” (CADORNEGA, 1942, p. 179).
Da fauna, ele descreve os “animais ferozes que tem estes reinos, de suas naturezas e préstimos que em si encerrão” (p. 331). Afirma ainda que "têm estes reinos de Angola lioens, tigres e onças; há lions de casta real com gadelha na cabeça e maçaroca na cola como os da África, de que o Autor viu alguns neste reino" (idem).  A nota de rodapé da edição de 1942 explica a confusão que Cadornega faz, perpetuando a confusão sobre as faunas africana e asiática: "verifica-se que a confusão e erros de nomenclatura existentes no texto de Cadornega ainda hoje prevalecem. Nem o tigre nem a onça existem em Angola, nem sequer na África. São naturais da Ásia" (idem) Apesar de alguns deslizes, os relatos de Cadornega informam e auxiliam os negociantes, colonizadores, exploradores e as missões cristãs, pois o autor discorre também sobre as salinas, preços de mercadorias, povos que negociam, sobre o que é vendido, o valor das moedas, religiões, líderes, etc.
No texto escrito da perspectiva do europeu que tem como leitor os próximos viajantes, a representação do negro é tema que se inclui no contexto geral das terras descobertas; é uma personagem que está contida na paisagem local. Em seus três tomos da História Geral das Guerras Angolanas, o negro, seus hábitos e costumes são descritos de modo semelhante ao modo como trata da fauna e da flora, isto é, como objeto de um texto, em que se consideram mais as impressões do enunciador e os interesses do leitor europeu do que o objeto em si.
Na mesma obra, o historiador português transcreve documentos, um deles é uma carta de autoria da rainha Jinga - uma rainha africana, convertida e batizada como Anna pelos padres. A rainha falava português; liderava seu povo e vendia escravos para os portugueses. Na carta, ela explica as diferenças de comportamento entre os que vendem escravos, os que compram e o que é dito sobre eles.
Senhor:
Receby a carta de V. Sa. , aqual me entregou o Capitão Frois Peixoto, embaixador de V. Sa., e por ela vejo gosar V. Sa. Saúde, aqual nosso Senhor aumente por largos anos, com muita paz e quietação, como desejo para mim. (...)
Não podia V. Sa. mandar-me embaixador que mais me alegrasse, que o Capitão Manuel Frois Peixoto, por saber bem declarar-me tudo pela língua deste meu Reyno. Todos meus grandes estão contentes, que dizem que só ele me traz verdadeira, e fala verdade e tudo o que V. Sa. lhe ordena por seu Regimento e já me considero com a prenda que desejo e com muita paz e quietação esses dias que viver que já sou velha e não quero deixar minhas terras, senão minha Irmãa, não a meus escravos, que haverá muita ruína e não saberão obedecer a Sua Majestade, que Deos Grande, e como minha Irmãa o saberá fazer pois há tantos annos que assiste com os brancos e he tão côa christã como me dizem. (...)
Matamba minha Corte treze de Dezembro de mil seiscentos e cincoenta e cinco annos. R. D. ANNA
(in História Geral da Guerras Angolanas, António de Oliveira de Cadornega, Tomo II, pp. 500-503)

A rainha Jinga escreve “minha Corte”, referindo-se a um contingente de pessoas sobre a qual é soberana, sem que faça menção da cor. Ela se refere ao povo da Matamba como aquele que compõe “minha Corte”. Da perspectiva dessa carta de Jinga, brancos são aqueles com quem sua irmã passou anos, os cristãos; são aqueles que a enganaram com promessas de entrega da irmã, refém, em troca de centenas de peças, os  escravos. Ela espera ser atendida no momento que escreve, mas acredita ter o direito de suspeitar da sinceridade dos negociadores e propõe entregar 130 peças. Cem peças, ela entregaria adiantado. Ao ver sua irmã liberta, entregaria o restante. A rainha Jinga considera-se soberana no mesmo patamar de importância que os líderes portugueses. Assim como os súditos do Reino da Matamba equivaleriam aos subalternos portugueses. Negros ou brancos, ela os divide em fugidos, vendidos, compradores, negociadores, farsantes, honestos, desonestos, portugueses falantes de sua língua e assim por diante. 
O distanciamento de António Oliveira Cadornega afasta-o daquele sobre o qual trata, aquele que o português situa no cenário exótico. A rainha Jinga agrupa as pessoas brancas e negras sob o julgamento de “quem me quer mal”, fugidos e atrevidos, de um lado, e, de outro, fala como porta-voz de sua Corte sobre “minha gente bamza” e “Minha Corte de Matamba”.
Escravos vendidos de Angola são conduzidos às margens sul-americanas, trazendo repertórios de histórias em navios que ligavam costa a costa do Oceano Atlântico. Por isso, Câmara Cascudo (CASCUDO, 2001), escreve que a rainha Jinga chega ao nosso país no imaginário de africanos que formaram o atual universo simbólico afro-brasileiro. A literatura afro-brasileira se origina desse traslado de idéias, da tradução de uma língua para outra, do diálogo das narrativas intercontinentais e de perspectivas diferenciadas.


Por que a Literatura afro-brasileira ou negra seria hoje um conceito em construção?

Pesquisas de Eduardo Assis Duarte e sua equipe, assinalam, no portal da UFMG LITERAFRO, que a literatura afro-brasileira é um
processo e devir. Além de segmento ou linhagem, é componente de amplo encadeamento discursivo. Ao mesmo tempo dentro e fora da Literatura Brasileira. Constitui-se a partir de textos que apresentam temas, autores, linguagens, mas, sobretudo, um ponto de vista culturalmente identificado à afro-descendência, como fim e começo. Sua presença implica redirecionamentos recepcionais e suplementos de sentido à história literária canônica. (LITEAFRO:2008)

O espectro constituinte da literatura afro-brasileira é amplo: temas, autores, estratégias, e, sobretudo, ponto de vista identificado com a afro-descendência. A seguir, na redação dos objetivos desse projeto de pesquisa, a adjetivação reduz o foco, pois a finalidade seria:
divulgar e estimular a pesquisa e a reflexão a respeito da produção literária dos brasileiros afro-descendentes. Lugar rizomático, elo e ponto de encontro. Mas, também, ambiente lacunar, feito de presenças e ausências, que adquire sentido pelo que apresenta e pelo que ainda está por vir e apresentar. Espaço em construção, aberto sempre a visitas e intervenções. (idem)

No artigo Literatura e Afro-descendência, Eduardo Assis Duarte, (LITERAFRO, 2008), procura as diferenças e semelhanças entre textos escritos por autores brancos e negros. Ele começa com a epígrafe de Roger Bastide: Não existe, na aparência, diferença essencial nos trabalhos dos brasileiros brancos e de cor. Mas justamente não passa de aparência, que dissimula no fundo contrastes reais.  Fernanda Arêas Peixoto explica em Diálogos brasileiros: uma análise da obra de Roger Bastide [i] que o francês se opôs à idéia de sincretismo como equivalência à de mistura, à de mosaico, ou seja, à idéia de que objetos discordantes coexistam.
Dessa perspectiva, Bastide desconstrói a relação de correspondência das entidades africanas e dos santos católicos, apresentando, por outro lado, a necessidade histórica de dissimulação de crenças dos africanos e de seus descendentes frente aos brancos. Para ele, a vinda de africanos ao continente americano não promoveu a formação de “ilhas culturais” africanas, mas, sim, propiciou o resultado atual de contatos culturais, cuja produção dissimula a diferença.
A partir da epígrafe, em que Bastide sugere contrastes reais dissimulados sob os textos escritos por negros e brancos sem diferenças aparentes, Eduardo de Assis Duarte define a literatura afro-brasileira. Para ele, “a literatura “negra” ou “afro-brasileira” passa necessariamente pelo abalo da noção de uma identidade nacional una e coesa(LITERAFRO, 2008).
Essa falta de coesão seria o motivo de tantas omissões na historiografia literária brasileira que recusaria “muitas vozes, hoje esquecidas ou desqualificadas, quase todas oriundas das margens do tecido social.” (idem) A estética branqueadora ainda teria apagado deliberadamente os vínculos autorais ou textuais com a etnia africana, fomentando assim a idéia de miscigenação pelo apagamento da cor negra. Essa produção literária sofreu impedimentos de divulgação e de publicação e, por isso, as pesquisas atualmente precisam recorrer a textos inéditos, a pequenas edições ou a suportes alternativos.
O apagamento desses escritos da história da literatura ou a desvinculação da afro-descendência do autor ou do texto, resulta na ausência de uma seleção de obras literárias que consolidem os estudos da literatura afro-brasileira no país. Para Duarte,

tanto no passado quanto no presente, em virtude do número ainda insuficiente de estudos e pesquisas a respeito, apesar do crescente esforço nesta direção. A inexistência de uma recepção crítica volumosa e atualizada, bem como de debates regulares nos fóruns específicos da área de Letras, decorre desses fatores e também da ausência da disciplina “Literatura Afro-brasileira” nos currículos de graduação e pós-graduação da maioria dos cursos de Letras instalados no Brasil. Como conseqüência, mantém-se intacta a cortina de silêncio que leva ao desconhecimento público e vitima a maior parte dos escritores em questão. (DUARTE, LITERAFRO, 2008)

Exemplo desse silenciar, de acordo com a introdução de Maria do Carmo Lanna Figueiredo e Maria Nazareth Fonseca (FONSECA, 2002), seria a marginalização do mercado editorial de livros literários, cujos textos tornam-se espaços de resistência dos negros. Raras são as publicações consagradas como os Cadernos Negros[ii], com 30 anos de existência.
Por outro lado, desde os anos 1980, a historiografia literária tem discutido o corpus, os métodos e os pressupostos a partir das reflexões advindas do feminismo, do movimento negro e de grupos como o Quilombhoje. Duarte cita os principais nomes desse grupo de pesquisadores: Moema Parente Augel, Zilá Bernd, Domício Proença Filho, Oliveira Silveira, Oswaldo de Camargo, Luiza Lobo, Leda Martins, David Brookshaw.
Seguindo o pensamento de Eduardo Duarte, nota-se um conflito. Um dos empecilhos para a constituição de uma literatura afro-brasileira seria:

nossa constituição híbrida de povo miscigenado, em que linhas e fronteiras de cor perdem muitas vezes qualquer eficácia. As relações inter-raciais e interétnicas constituem fenômeno concernente à própria formação do Brasil como país. Ao longo de nossa história, o fenômeno da mistura de raças e culturas recebeu distintos tratamentos, indo da idealização romântica de uma terra sem conflitos ao mito da democracia racial, por um lado; e da condenação racialista típica do século XIX ao fundamentalismo de muitos segmentos contemporâneos, que rejeitam a mestiçagem e defendem a existência de uma possível essência racial negra, por outro. (idem)

Para o autor, somos híbridos e miscigenados, mesmo argumento já citado para justificar esse silenciar: sendo todos afro-brasileiros, o apagamento das diferenças na historiografia literária brasileira seria legítimo. Ainda para Eduardo Assis Duarte, sobrepondo critérios étnicos ou identitários ao da nacionalidade, “nossa literatura seria uma só”, pois ao fim e ao cabo “somos todos brasileiros”. E, se somos todos “um pouco” afro-descendentes, essa discussão não faria sentido. A literatura afro-brasileira não seria sequer uma noção em construção, e sim, nenhuma noção com fundamento.
Maria Nazareth Soares Fonseca escreveu no ensaio Poesia afro-brasileira – vertentes e feições (FONSECA, 2008) que os termos “literatura negra” e literatura “afro-brasileira” nomeiam

alguns tipos de produções artístico-literárias que podem estar relacionadas tanto com a cor da pele de quem as produz, com a motivação dada por questões específicas de segmentos sociais de predominância negra e ou mestiça, e com o fato de nelas serem trabalhadas, com maior intensidade, questões que dizem respeito à presença de tradições africanas disseminadas na cultura brasileira. (FONSECA, 2006)

Para a autora, há duas vertentes que decorrem “do modo como se ligam à temática negra ou afro-descendente” (idem). Uma enfrenta o preconceito contra os afro-descendentes e denuncia a exclusão, relacionando a obra literária com o ideário do escritor que se assume publicamente negro e herdeiro de uma história familiar com ascendentes escravos.
A outra vertente, também enfrenta o preconceito e a exclusão, mas procura detectar no texto os procedimentos que a escrita propõe para a oralidade e para os ritmos do corpo. Maria Nazareth Soares Fonseca informa que:
A discussão de aspectos da obra de escritores que, na época atual, elegem como tema de seus livros aspectos relacionados com as heranças africanas, percebendo-as num jogo intenso com outras tradições informa sobre tensões presentes em textos que, assumem a escrita, mas não pretendem silenciar a profusão de vozes que os invade, advindas dos estratos de predominância oral. Nesse sentido, a análise de algumas antologias literárias, construídas com o propósito de destacar a produção poética de escritores afro-descendentes brasileiros pode se mostrar como um caminho bastante eficaz para a investigação de textos literários que ainda circulam pouco nos meios acadêmicos e nos programas de literatura adotados pelas escolas. (idem) [iii]

E “o que seria a Literatura Negra sob a perspectiva semiótica, do dito e do não dito?” Essa é a pergunta-título do ensaio de Silvia Regina Lorenso Castro (CASTRO, 2008). A pesquisadora explica que, em A escrita e os excluídos, Alfredo Bosi (2002) considera escrever um ato de cidadania: tanto colocando o marginalizado como objeto da narrativa - tema, personagem ou situação narrativa – ou como sujeito - enunciador.
Para a autora, a semiótica procura o sentido que resulta da diferença entre dois termos ou mais, os quais estabeleceriam pelo menos relações mínimas. Sendo assim, a principal relação entre a literatura brasileira e a afro-brasileira seria que a segunda é silenciada e menos visível do que a primeira. A visibilidade da literatura brasileira e a falta de visibilidade da literatura afro-brasileira ou negra, para usar a expressão de Maria Nazareth Soares Fonseca (FONSECA, 2000), caracteriza a relação entre ambas, isto é, o que determina a relação entre as duas literaturas são a visibilidade e a ocultação de sua produção.
         Rompendo com essa invisibilidade, o movimento social negro brasileiro, nos anos 1970, denuncia publicamente as condições de existência do negro brasileiro. Em 25 de novembro de 1978, a mencionada antologia Cadernos Negros é publicada, tentando superar a geração mimeógrafo e, em 2007, comemora com a publicação do trigésimo volume a inclusão no debate acerca do racismo, da discriminação e do preconceito racial. Além do tema, outra característica constante dos Cadernos Negros é o fato de proporcionar a publicação coletiva como estratégia de resistência semelhante àquela usada nos quilombos com o intuito de oferecer “visibilidade dos autores e de textos afros” (Cadernos Negros, 2007, p. 11).
Visibilidade e invisibilidade são duas questões fundamentais da escrita afro-brasileira. Brookshaw (1983:152) trata das estratégias da ocultação da etnia na literatura ao escrever sobre as conclusões de C. L. Innes. Em primeiro lugar, o autor poderia esconder-se atrás de uma espetacular habilidade de escrita, criando obstáculos para que o crítico descobrisse sua origem. Em segundo lugar, o escritor afro-brasileiro poderia escrever com formas dialetais de nativos, com humor e ternura. A terceira opção seria protestar contra a linguagem e a forma literária de tradição européia.
         Dessas perspectivas, o estudo analisa obras literárias de escritores brasileiros e conclui que Machado de Assis teria produzido textos dissociados de suas origens étnicas; Cruz e Sousa teria feito referências camufladas através de símbolos; Tobias Barreto teria evitado o confronto com as origens raciais através de seu interesse pela filosofia alemã; Domingos Caldas Barbosa teria escrito como nativo, e, finalmente, as obras de Lima Barreto e Luiz Gama não teriam ocultado o protesto.
 

O que seria enfim um escritor afro-brasileiro?

Para definir a produção poética de escritores afro-descendentes brasileiros o investigador precisa de critérios referentes a esse autor adjetivado. Retomando o pensamento de Moema Parente Augel, escritores afro-brasileiros seriam os:
1.      escritores brasileiros que se nomeiam escritores negros, e que proclamam a literatura negra, isto é, afro-brasileira, ressaltando sua africanidade.
2.      são intérpretes e porta-vozes dos anseios, dos sentimentos e ressentimentos da maioria anônima dos brasileiros de origem africana.
A afro-brasilidade seria, então, segundo Moema Parente Augel, uma questão ligada aos estratos sociais, mas não idêntica a eles.  Sendo a cor da pele negra o critério que deflagra a noção de escritor afro-brasileiro, vejamos o verbete correspondente: o dicionário Houaiss explica que afro-brasileiro é o adjetivo que se refere concomitantemente à África e ao Brasil, que apresenta um amálgama das duas culturas, refere-se ao brasileiro de ascendência africana, e refere-se também ao negro brasileiro.
Já pardo é um vocábulo datado de 1526 que adjetiva o indivíduo filho de pai branco e de mãe preta (ou vice-versa); que ou aquele que descende de brancos e negros;  que ou aquele que apresenta traços das raças (sic) negra e branca; que ou aquele que não apresenta traços raciais definidos; mestiço de negro, índio ou branco, de pele morena clara ou escura; que ou aquele que tem cor parda, acastanhada. A afro-descendência não coincide, portanto, com a cor negra, o que resultaria em um vasto elenco de autores do repertório de obras como o da representação literária.
Contemporaneamente, acrescentaram-se dados e descobertas à discussão sobre raças humanas. Dois manifestos sobre raça, afro-descendência e racismo no Brasil foram publicados e divulgados amplamente em 14 de maio de 2008. Retiro e grifo da edição da Folha de São Paulo, caderno Cotidiano, páginas 4 e 5, os próximos trechos assinados, cada um deles, por centenas de intelectuais e líderes de movimentos populares e negros, e entregues ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes: 
Do manifesto intitulado Cidadãos anti-racistas contra as leis raciais:
Raças humanas não existem. A genética comprovou que as diferenças icônicas das chamadas raças humanas são características físicas superficiais, que dependem de parcela ínfima dos 25 mil genes estimados do genoma humano. A cor da pele, uma adaptação evolutiva aos níveis de radiação ultravioleta vigentes em diferentes áreas do mundo, é expressa em menos de dez genes! Nas palavras do geneticista Sérgio Pena: "O fato assim cientificamente comprovado da inexistência das "raças" deve ser absorvido pela sociedade e incorporado às suas convicções e atitudes morais. Uma postura coerente e desejável seria a construção de uma sociedade desracializada, na qual a singularidade do indivíduo seja valorizada e celebrada. Temos de assimilar a noção de que a única divisão biologicamente coerente da espécie humana é em bilhões de indivíduos, e não em um punhado de "raças".
Não foi a existência de raças que gerou o racismo, mas o racismo que fabricou a crença em raças. O "racismo científico" do século 19 acompanhou a expansão imperial européia na África e na Ásia, erguendo um pilar "científico" de sustentação da ideologia da "missão civilizatória" dos europeus, que foi expressa celebremente como o "fardo do homem branco". Os poderes coloniais, para separar na lei os colonizadores dos nativos, distinguiram também os nativos entre si e inscreveram essas distinções nos censos. A distribuição de privilégios segundo critérios etno-raciais inculcou a raça nas consciências e na vida política, semeando tensões e gestando conflitos que ainda perduram. (...)
(Cidadãos anti-racistas contra as leis raciais: 2008)

Do Manifesto em defesa da justiça e constitucionalidade das cotas, o quesito “Raça e inclusão” afirma que:
A parte do documento (citado acima) dedicada à genética é particularmente confusa e inútil, além de contraditória para os seus próprios objetivos. Seu interesse é minar a realidade da diferença entre os seres humanos pelo fenótipo e demonstrar a mestiçagem genética que caracteriza a todos nós. Com isso, pretendem invalidar a possibilidade de que se adotem cotas para negros nas universidades ao "demonstrar" que "cientificamente" não existem negros. Para tanto, passam a afirmar que há negros com carga genética mais européia que africana, obviamente, uma carga genética que não se revela na aparência física da pessoa.
(...) os defensores das cotas jamais falaram em raça no sentido biológico do termo. Somos nós que defendemos políticas públicas para a comunidade negra, que enfatizamos ser o racismo brasileiro o resultado histórico de uma discriminação dos brancos contra as pessoas de fenótipo africano.

O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para a Eliminação do Racismo trabalha justamente nesta direção: a escravidão é considerada, como o Holocausto, um crime contra a humanidade imprescritível e por isso insta os países da diáspora africana nas Américas e no Caribe a desenvolver políticas de ações afirmativas para os descendentes de africanos escravizados.
Prestar conta do seu passado racista, colonialista e genocida diante dos escravizados e dos povos indígenas originários é uma discussão política que atravessa os cinco continentes (...)
(Manifesto em defesa da justiça e constitucionalidade das cotas: 2008)
         Os dois documentos, embora discordem quanto à política pública das cotas universitárias, concordam que o racismo existe no Brasil, e é praticado para determinar hierarquias sociais, financeiras, culturais, estéticas, etc. Sendo assim, a afro-brasilidade de autores e de suas obras centra-se na idéia de racismo e não de raça. O racismo, em uma família composta por múltiplas cores, pode ser sentido até pelo filho branco que esconde a identidade de sua família ou vice-versa como indicam as questões de visibilidade e invisibilidade.
         Então a visibilidade que é apagada ou revelada pelos autores e por suas obras literárias refere-se à identidade daqueles e com aqueles que sofrem o racismo, assumindo publicamente as conexões com a exclusão ou com o imaginário afro-descendente. Estaríamos assim mais próximos das questões que a literatura afro-brasileira suscita.
         Moema Parente Augel afirma que a representação da África na literatura brasileira representa a origem e também o sonho de evasão que Cuti evoca em seu poema “Vento: Vem da África/ soprando a gente por todos os poros do mundo/ Vem de lá/ Vem do chão/ do vulcão/ na maré/ esse vento de fé” (CUTI, 1982, p.46).  Para Augel, não é possível que se pense nação, identidade e pertencimento, sem que se pense em África. E isso inclui todos os brasileiros, não só os afro-descendentes.
 
E Machado de Assis com isso?

Machado era mulato, neto de escravos. Órfão, foi criado por uma mulher também mulata. Para sobreviver, Machado vendia na rua quitutes, que sua madrasta preparava. Assim cresceu aquele que mais tarde se intitularia de “um escritor caramujo”, ou seja, aquele que usou mais de dez pseudônimos, que jogou com a ironia e com o riso, que são procedimentos dissimuladores e não panfletários. 
Segundo Nei Lopes, em Dicionário Escolar Afro-Brasileiro, Machado de Assis estréia aos quinze anos na literatura pela mão do também afro-brasileiro, o editor Paula Brito, começando uma carreira duplamente promissora: a de jornalista e a de escritor. Machado nunca teve um escravo, não era rico ou descendente da burguesia, mas um funcionário que, pelo mérito de sua obra, convive de igual para igual com a elite do império. Em crônicas, ele chega a relatar que no dia 13 de maio festejou a abolição nas ruas.
As obras mais lidas de Machado de Assis certamente se utilizam de estratégias que, segundo Eduardo de Assis Duarte, compõem “uma literatura de brancos, uma literatura para os brancos” (DUARTE, 2008). Literatura, na fala de Duarte, é uma noção que integra o leitor à obra. O primeiro recenseamento feito no Brasil, por volta de 1876, aponta que 84% dos brasileiros eram analfabetos. A elite branca consumia seus textos e, por isso, o tema afro-brasilidade teria surgido apenas nas brechas do texto, de modo dissimulado  em obras publicadas inicialmente em revistas femininas.
Machado, o autor de Pai contra mãe, escrevia, portanto, para um pequeno grupo de alfabetizados, explicando vez por outra como viviam outros grupos sociais, como a  penúria levava um homem a caçar escravos fugidos e por que a Roda dos inocentes era uma solução para o filho que uma costureira e um rapaz sem profissão não poderiam sustentar.
Harold Bloom, pesquisador de Yale, reconheceu, ao ler obras de Machado de Assis, que elas constituíam a produção do maior escritor afro-descendente de todos os tempos e fariam parte de uma literatura acima das questões do racismo. Harold Bloom elencou a obra de Machado de Assis em Gênio - Os 100 Autores Mais Criativos da História da Literatura, ed. Objetiva, 2002. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Caderno Mais, 27 de janeiro de 2008, também disponível no site http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2701200808.htm, Harold Bloom conclui do que leu:
Eu tive uma grande surpresa quando li o cubano Alejo Carpentier (1904-1980). Pensei que ele fosse negro, porque questões de raça estão de alguma forma colocadas, mesmo de modo sutil e às vezes inconsciente, em "El Reino de Este Mundo" (1949). Já a literatura de Machado não traz traço algum de raça. Então pensei que ele era branco e Carpentier, negro. Curiosamente, ao final, descobri que se tratava do contrário. Machado foi o maior escritor "afro" que conseguiu escrever na língua do Novo Mundo sem trazer a questão da raça para seus textos. A sensibilidade que teve para ver uma certa decadência do homem define sua escrita. Não uma decadência do ponto de vista negativo, mas como um dado posto. E isso está acima da questão racial. (BLOOM, 2008)
Mas há muitos textos de Machado que são desconhecidos do público em geral -brasileiro e estrangeiro; por exemplo: as crônicas que tratam das condições de existência do negro. Elas foram recuperadas de jornais do século XIX, guardados na Biblioteca Nacional e em outros acervos e pesquisadas pelo autor do livro Machado de Assis afro-descendente. Nesse livro, Eduardo de Assis Duarte trata do envolvimento do cronista e escritor de Memórias Póstumas de Brás Cubas com a luta pelo fim da escravidão. Mesmo assunto de um dos capítulos do estudo de Raimundo Magalhães Júnior Machado de Assis Desconhecido, 1957.
         Em crônicas, Machado se utiliza de pseudônimos como Lélio, João das Regras, Policarpo, Dr. Semana e outros. Esconder sua assinatura é uma estratégia de proteção para seu cargo de funcionário público, já que ele era homem de confiança do governo imperial. Isto em uma época em que amigos do imperador foram demitidos por publicarem textos pró-abolição.
A crônica Duelo de Filantropia (DUARTE, 2007, p. 27) que se encontra sem assinatura nas edições Jackson e Nova Aguilar foi publicada pela primeira vez no Diário do Rio de Janeiro em 1864. O texto é um bom exemplo de como tratar o tema da escravidão. Dele extraímos o primeiro parágrafo para ilustrar:
Era um leilão de escravos. Na fileira dos infelizes que estavam ali de mistura com os móveis, havia uma pobre criancinha abrindo os olhos espantados e ignorantes para todos. Todos foram atraídos pela tenra idade e triste singeleza da pequena. Entre outros, notei um indivíduo que, mais curioso que compadecido, conjeturava à meia voz o preço por que se venderia aquele semovente. Travamos conversa e fizemos conhecimento; quando ele soube que eu manejava a enxadinha com que revolvo as terras do folhetim, deixou escapar dos lábios esta exclamação:
-Ah!
(...) É para a liberdade!  (ASSIS, in DUARTE, 2007, p. 27)
Por causa da sutileza das obras mais conhecidas e das estratégias de invisibilidade, o Movimento Negro, em 1930, avaliou o trabalho de Machado como uma obra em que as questões do negro estão ausentes. Em 2007, contudo, a pesquisa de Duarte afirmou o contrário.
Em outra crônica, sob o pseudônimo de Dr. Semana, Machado escreve sobre a prostituição exercida pelas mulheres escravizadas, o que era comum no período colonial e durante o século XIX. Fato este, que fundamentou o mito do erotismo exagerado de mulheres negras e mulatas. A crônica apresenta o apreço de Machado pelos pró-abolicionistas mesmo antes da campanha se fortalecer. Ele sublinha a louvável atitude do Sr. Dr. Miguel Tavares “contra as mulheres que forçam escravas à prostituição” e “seu principal objetivo era a punição dos traficantes. Um bravo ao nosso denodado colega” (MACHADO, in DUARTE, 2007, p. 30).
Outra característica da obra de Machado é a de não defender o racismo por meio da estereotipação do negro. Ao contrário, sua obra denuncia o racismo ao contar sobre as relações assimétricas entre escravos e senhores e as injustiças praticadas contra os negros. A conclusão de Duarte é que a obra de Machado mostra o negro como qualquer outro ser humano:
com altos e baixos, com verdades e com mentiras, com honestidade e com desonestidade, com ingenuidade e com esperteza, ou seja, alguém que é humano como qualquer outro ser humano, não é nem mais nem menos. Este é o ponto e já aí há uma distância enorme entre Machado de Assis e vários outros escritores da época que viam o negro como um ser humano de segunda categoria. Este é um ponto. Acho que ele dá um tratamento digno ao negro, ao escravo e vê inclusive em determinados gestos de rebeldia, ou de astúcia, do próprio escravo, como gestos de legítima defesa. Eu creio que neste ponto ele se destaca, porque é diferente de muitos, que inclusive faziam a campanha abolicionista, como Aloísio de Azevedo que, no seu livro “O cortiço”, coloca a negra de uma forma completamente estereotipada, que via o branco como uma raça superior. (idem)

Machado, por ter sido um excelente escritor, utilizou técnicas variadas e gêneros diversos para tratar da igualdade entre os brasileiros e dos abusos contra os afro-descendentes. Machado não elaborou personagens negras através de estereótipos. Foi um autor afro-descendente que escreveu contra o sistema escravista através de artigos, cuja visibilidade era mascarada por pseudônimos ou pelo anonimato. Tais textos, felizmente, estão sendo disponibilizados para o público, pois pesquisas recentes revelam o Machado de Assis escondido como um caramujo. A obra de Machado de Assis, portanto, é considerada afro-brasileira.






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[i] Roger Bastide (1898-1974) destaca-se como um dos integrantes da "missão francesa" trazida na época da fundação da Universidade de São Paulo ao estudar o Brasil por 16 anos.
[ii] Inicialmente com o título de Cadernos Negros, hoje a publicação denomina-se Cadernos negros: contos afro-brasileiros e Cadernos Negros: poemas afro-brasileiros.
[iii] Nazareth sugere três antologias para serem pesquisadas com pressupostos de simulação de oralidade na escrita: A antologia AXÉ, antologia contemporânea de poesia negra brasileira, org. Paulo Colina, 1982. Constam poemas de Adão Ventura (falecido em 2004), de Minas Gerais; Arnaldo Xavier (também falecido em 2004), da Paraíba; Oliveira Martins, do Rio Grande do Sul; Éle Semog e José Carlos Limeira, Rio de Janeiro; Abelardo Rodrigues, Luiz Silva, (Cuti), Geni Mariano Guimarães, José Alberto, Maria da Paixão, Mirian Alves, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina e Ruth Souza, de São Paulo. 

  


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUGEL, Moema Parente. Geografias imaginárias: África na poesia afro-brasileira contemporânea. (no prelo). Cedido pela autora via e-mail em 04/05/2008. (Outras informações sobre o assunto em AUGEL, Moema. A imagem da África na poesia afro-brasileira contemporânea. Afro-Ásia. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), Universidade Federal da Bahia (UFBa), 1997, nº 19/20, p. 183-199.)
BLOOM, Harold. Machado divertia-se a cada página. Folha de S.Paulo, São Paulo, 27 jan. 2008. Caderno Mais, p. 6 e 7.
BOSI, Alfredo. A escrita e os excluídos. In: Fórum Social Mundial, 2002, Porto Alegre. Comunicação apresentada no Fórum, 2002.
BROOKSHAW, David , Raça e Cor na Literatura Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
CADORNEGA, António de Oliveira de. História geral das guerras angolanas 1680-1681; revisão e anotações de Manuel Alves da Cunha. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1940-1942. - 3 vol.
CASCUDO, Câmara. Made in África: pesquisas e notas. São Paulo: Global, 2001.
Cadernos Negros n. 30, São Paulo: Quilombhoje, 2007.
Cidadãos anti-racistas contra as leis raciais. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 maio 2008. Caderno Cotidiano, p.4.
CUTI. Batuque de tocaia. São Paulo: Edição do Autor, 1982.
DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura e Afrodescendência. Capturado do Portal LITERAFRO do site da Universidade Federal de Minas Gerais em 20 de abril de 2008
___. Machado de Assis: afro-descendente. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007.
___. Machado de Assis é clássico duas vezes. É clássico da literatura brasileira e é clássico da literatura negra. 9 set. 2007. Entrevista concedida a RCO. Disponível no site http://www.pco.org.br/conoticias/especiais/entrevista/9_9_entrevista_assis.html. Capturado em 20 abril 2008.

FIGUEIREDO, Maria do Carmo Lanna; FONSECA, Maria Nazareth (orgs). Poéticas afro-brasileiras.  Belo Horizonte: Mazza: PUC Minas, 2002.
FONSECA, Maria Nazareth Soares. Poesia afro-brasileira – vertentes e feições. In: SOUZA, Florentina; LIMA, Maria Nazaré (orgs.). Literatura afro-brasileira. Fundação Palmares e Centro de Estudos Afro-orientais (CEAO), 2006; artigo também acessível nos sites das duas organizações citadas na referência bibliográfica.
___.Visibilidade e ocultação da diferença. In:___. Brasil afro-brasileiro, Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
LOPES, Nei. Dicionário afro-brasileiro. Santo André: Selo Negro, 2006.
LORENSO, Silvia Regina Castro. Literatura negra sob a perspectiva semiótica: o dito e o não-dito. Estudos Semióticos, Número 2, São Paulo, 2006. Disponível em www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es. Acesso em 14 de abril de 2008
Manifesto em defesa da justiça e constitucionalidade das cotas. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 maio 2008. Caderno Cotidiano, p.5
PEIXOTO, Fernanda Áreas. Diálogos brasileiros: uma análise da obra de Roger Bastide. São Paulo, Edusp/FAPESP, 2000.









Elizabeth R. Z. Brose é doutora em Teoria da Literatura, defendeu tese sobre obras do angolano Pepetela sob orientação da Profa. Dra. Regina Zilberman; participa do grupo de estudos interdisciplinares Educomafro da PUCRS, que elabora curso de pós-graduação sobre afro-brasilidades (www.pucrs.br/faced/educomafro). Este ensaio foi apresentado no Seminário Nacional de Literatura e História, ocorrido na FAPA, nos dias 29, 30 e 31 de maio de 2008. E-mail: ebrose@uol.com.br


Fonte: http://cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=3489