terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Fantasias de carnaval podem reproduzir preconceitos contra negros e homossexuais



A irreverência do carnaval em muitos casos pode trazer consigo preconceitos há muito enraizados na cultura brasileira. Fantasias como nêga maluca ou mesmo homens travestidos de mulheres acabam por reforçar o racismo e a homofobia, explica a integrante do coletivo de mulheres negras Pretas Candangas, Daniela Luciana. Segundo ela, isso é bastante comum nos blocos de rua. Ontem, no entanto, acabou ocorrendo também durante o desfile da Mangueira, no Rio de Janeiro, quando, em alguns momentos, integrantes da comissão de frente desfilaram com vestimentas que lembram personagens conhecidas como nêga maluca.
“Sei que os carnavalescos têm autonomia para fazer isso e que, muitas vezes, a comunidade não tem poder de decisão para evitar coisas desse tipo. Mas, nesse caso, coreógrafo e diretoria acabaram por cometer esse erro [reforçar preconceitos por meio de estereótipos], o que ofuscou o brilho da escola”, disse a integrante do Pretas Candangas à Agência Brasil. “Mesmo que digam que não se trata da fantasia de nêga maluca, eles usaram de elementos que estereotipam o corpo da mulher negra, com seios e nádegas ampliadas. Não é homenagem. Não gostei”, acrescentou.
A crítica de Daniela se estende também às pessoas que usam a fantasia nos blocos de rua. “Em Belo Horizonte, por exemplo, há um bloco onde todos integrantes saem de nêga maluca. Nós, negros, somos um quarto da população e repudiamos ser representados como malucos. Cabelo e pele de negro não é fantasia, até porque temos de usá-los o ano inteiro. Não é objeto de riso, mas a identidade de alguém. E muitas pessoas morrem pelo simples fato de serem negras”, disse a integrante do coletivo Pretas Candangas.
Na avaliação dela, a pessoa pode até não saber que está sendo racista e se achando engraçada. “Mas quem diz se é racismo é o negro ou a negra. E, para mim, não existe exceção. É, sim, racismo”, completou, citando também, como exemplo, marchinhas como O Teu Cabelo não Nega, de Lamartine Babo.
Outro tipo de fantasia que incomoda a integrante do Pretas Candangas está relacionada à homofobia. “Sou totalmente contra que homofóbicos se vistam de mulheres. Quando eles se vestem de mulher, estão ferindo quem é transexual. Às vezes, é uma pessoa que fala mal e discrimina o travesti o ano inteiro. Mas no carnaval se veste como um, por considerar tal fantasia como algo ridículo”, argumentou.
A opinião de Daniela é corroborada pelo diretor da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) na Região Centro-Oeste, Evaldo Amorim. “Diante da cultura machista da sociedade brasileira, os preconceitos se apresentam na tendência de buscar risos e chacotas a partir das formas e vestes femininas. Assim, ridicularizam homossexuais, travestis, transexuais e a própria mulher, por colocar neles uma imagem ridícula, inferior, marginalizada e estereotipada. No caso dos homossexuais, apresentando-os como peças de humor e do ridículo, a exemplo do que é visto em programas de humor na televisão”, disse ele à Agência Brasil.
Para Amorim, é preciso que o carnaval tenha um limite: “É o respeito. A cultura anterior não pode ser mantida no sentido de ridicularizar as pessoas”, disse o diretor da ABGLT. “Acredito que a maioria dos homofóbicos não participariam dessa brincadeira. Mas há, sim, casos que podem ser identificados pelo comportamento. Eles usam dessas fantasias para ridicularizar, inferiorizar o outro.”
O que falta, na avaliação de Amorim e de Daniela, são campanhas educativas que mostrem às pessoas que, em atitudes desse tipo, elas podem estar reproduzindo diversas formas de preconceito. No entanto, o que se veicula na mídia, muitas vezes, é o oposto. “Vimos campanhas de uma cerveja dizendo às pessoas que, durante o carnaval, guardem o [termo] 'não' em casa. Isso é machismo, porque estimula homens a forçarem beijo nas mulheres. Acontece muito em Salvador. Lá os homens têm o hábito não só de roubar beijos, mas de passar a mão nas mulheres”, argumenta Daniela.
O fisioterapeuta Terge Vasconcelos se fantasiou de nêga maluca no último sábado, quando foi entrevistado pela Agência Brasil. Ele discorda da opinião da representante do Pretas Candangas. “Trata-se apenas de uma fantasia para brincar o carnaval. Nunca fui taxado de racista por ninguém em toda a minha vida. Pulo carnaval cercado de pessoas de todas as raças, que fazem parte do meu círculo de amizade”, disse. Nesta segunda-feira de carnaval, Terge se fantasiou de “Barbicha”, uma sereia com barba no rosto, dentro de uma caixa de boneca no estilo da Barbie. “Cada dia brinco com uma situação diferente. É para isso que existe o carnaval”, acrescentou.
Na opinião dela, a legislação brasileira, que proíbe, por exemplo, o uso de símbolos nazistas, deveria fazer o mesmo em situações como fantasias que incitem racismo ou homofobia. “Esses preconceitos estão no cotidiano do brasileiro, não apenas no carnaval. Portanto, no carnaval não seria diferente. Mesmo se usada como forma de ironia, com o objetivo de chamar a atenção para o racismo, é melhor não usar essas fantasias porque corre o risco de surtir o efeito oposto, tornando-se ofensivo a alguém. Se tem o risco de ser ofensivo, é melhor não usar”, destaca a militante.

Editor: Lílian Beraldo
 
 
"Nega maluca, não": Mulheres pedem fim de "fantasias de negras" no Carnaval
Só homens podem vestir a fantasia oficial do bloco Doméstica de Luxo, que no último fim de semana reuniu mais de 6 mil pessoas em Juiz de Fora, Minas Gerais. A caracterização se repete desde 1958, quando o grupo foi criado por seis amigos: avental, cabelo "black power", batom vermelho para engrossar os lábios e tinta preta cobrindo o rosto. Exatamente o oposto do que gostariam de ver mulheres negras como Stephanie, Jarid e Dandara, que conversaram com a BBC Brasil sobre racismo no Carnaval.

Além do exemplo mineiro, elas citam como motivos de desconforto marchinhas como "O Teu Cabelo Não Nega" ("Mas como a cor não pega, mulata / Mulata, eu quero o teu amor"), fantasias como a de "nega maluca" e clichês como a "mulata tipo exportação".

Para as entrevistadas, sob confetes e serpentinas circulam piadas machistas (com homens se vestindo de 'mulher fácil'), racistas (por meio da representação debochada da mulher negra) e com preconceito social (caso das piadas com o cotidiano das empregadas).

Segundo diretor do bloco Domésticas de Luxo, objetivo é "homenagear de forma singela as empregadas"

'Homenagem'

"Tenho certeza de que a maioria desses homens não tem a menor noção sobre a questão racial e, pior, não faz nenhum esforço para entender", diz a estudante de arquitetura Stephanie Ribeiro, de 21 anos, eleita uma das 25 mulheres negras mais influentes da internet brasileira.

"A origem que percebo na maioria dos 'bullies' é essa: uma dificuldade de se colocar no lugar do outro", afirma a jovem.

A reportagem conversou com um dos diretores do bloco Doméstica de Luxo, o administrador de empresas Odério Filho, que se disse surpreso com as críticas.

"A gente não tem preconceito", afirma. "O bloco foi criado em 1958 por seis amigos que decidiram pintar o rosto de preto e vestir uma roupa simples para homenagear de forma singela as empregadas."

Questionado sobre a associação da mulher negra ao trabalho doméstico, Odério diz defender a liberdade de expressão.

"Tratamos de forma carinhosa e caricata. A liberdade de expressão está aí. Queremos agregar qualquer tipo de pessoa - a única restrição é que só podem homens, como está no estatuto."

Stephanie contra-argumenta. "Hoje tenho um pouco de medo de ir para a rua num bloco porque me encaixo exatamente no padrão de mulher que eles constroem. O constrangimento não fica só no campo da palavra, da expressão, da fantasia. A agressão também é física: nos passam a mão e tratam como objeto de diversão."

"Nós não criticamos ou falamos mal (das mulheres)", rebate Odair. "A empregada doméstica surgiu no Brasil como a pessoa simples que trabalhava para a madame nas fazendas. Hoje, com a PEC das Domésticas, é uma profissão consagrada. E nós comemoramos isso."
Para a atriz recifense Dandara de Morais, "nega maluca" ridiculariza a mulher negra

'Cor do pecado'

"A origem que percebo na maioria dos 'bullies' é essa: uma dificuldade de se colocar no lugar do outro", diz a estudante Stephanie Ribeiro

A escritora e militante Jarid Arraes, de 24 anos, se diz "ofendida" com a "hipersexualização" das mulheres negras durante a festa.

"Somos retratadas como mulheres 'da cor do pecado', 'mulatas tipo exportação'. É o velho estereótipo de que as mulheres negras seriam mais sexuais do que as brancas - que por sua vez seriam para casar", diz.

A fantasia de "nega maluca" seria um exemplo "infelizmente muito comum até em eventos de movimentos sociais", segundo Jarid. "Aquela não é a imagem criada pela própria mulher negra. É criada pela elite branca, com exageros nas formas e curvas. Não dá para dizer que é inofensivo, que é diversão. É deboche", afirma.

A atriz Dandara de Morais, de 24 anos, conta ter vivido na própria pele o clichê da nega maluca.

"Faço balé desde criança. Aos 16, tivemos uma apresentação sobre bonecas - claro, para mim reservaram a 'nega maluca'", diz. "Hoje eu vejo como este tipo de representação da mulher negra a limita e ridiculariza."

São representações que Jarid promete combater até que os "estereótipos sejam derrotados".

"O carnaval é só sintoma de um problema muito maior: a repressão sexual, o moralismo, a desigualdade de oportunidades", diz. "A internet nos coloca numa posição mais visível que antigamente. As pessoas nos escutam, nos veem questionar e com isso conseguimos causar incomôdo."

"A origem que percebo na maioria dos "bullies" é essa: uma dificuldade de se colocar no lugar do outro", diz a estudante Stephanie Ribeiro 'Bons' blocos

Para a atriz recifense Dandara de Morais, 'nega maluca' ridiculariza a mulher negra

Por outro lado, as entrevistadas reconhecem que nem só de estereótipos é feito o Carnaval. A cada ano, ganham força pelo país blocos carnavalescos que pulam a festa levantando bandeiras sociais como o empoderamento feminino e a defesa de oportunidades iguais entre os sexos.

É o caso do bloco Rolezinho da Crioula, que desfilou no último domingo, na Vila Madalena, em São Paulo, com a missão de promover a cultura negra e o respeito às tradições afro-brasileiras.

Stephanie fez um chamado nas redes sociais em busca de indicações de blocos que não aceitam representações estereotipadas entre seus integrantes.

A lista com os principais está abaixo:

Fortaleza - CE - Afoxé Oxum Odolà, Tambores de Safo

Florianópolis - SC Bloco Carnavalesco Pula Catraca

Manaus – AM Bloco Maria Vem com as Coisas Outras

Recife – PE Ou Vai ou Racha

Rio de Janeiro – RJ Comuna Que Pariu, Agyto,  Bloco das Perseguidas

Salvador – BA Folia Feminista, Olodum Muzenza, Malê de Balê, Banda Didá

São Paulo – SP Bloco Soviético, Bloco da fanfarra do Mal, Ilú Obá De Min, Adeus Amélia, Bloco do MAL, Bloco da Dona Yayá, Bloco da Abolição, Bloco do Peixe, SecoOlgazarra, Bloco da toca do saci, Ilú Obá
Fonte: http://carnaval.uol.com.br/2015/noticias/bbc/2015/02/10/nega-maluca-nao-mulheres-pedem-fim-de-fantasias-de-negras-no-carnaval.htm
 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Globeleza 2015

Nova Globeleza conta que cobriu tatuagens para gravação e fala sobre o ciúme do namorado

Erika Moura revela o que disse para acalmar o dançarino Gabriel, com quem se relaciona há dois anos: ‘Eu sou sua’

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RIO — Nascida e criada na comunidade de Jardim Colombo, em São Paulo, Erika Moura, de 22 anos, ficou incrédula ao receber o telefonema da produção da Globo avisando que ela seria a nova Globeleza.
— Na hora pensei que era trote. A gente sempre acredita, mas pensa: “Será que vai ser?” Deu vontade de soltar fogos de artifício — recorda a paulista, que trabalhou como Jovem Aprendiz para pagar a faculdade de Fisioterapia, além de ter dado aulas de dança.
A boa notícia chegou em novembro, mas a mulata diz que precisou guardar segredo, contando a novidade apenas para a mãe, Maria Beth, 39, o pai, Francisco, 44, e o irmão, Erik, 18.
— Falava para os amigos que estava muito feliz, mas não dizia a razão. Minha madrinha queria saber o que estava acontecendo, mas tive que me segurar para não estragar a surpresa. Quando me vi pela primeira na televisão, chorei — conta com entusiasmo.
Segundo Erika, de 1,67m de altura e 55 quilos, o fato de aparecer seminua na TV, apenas com o corpo pintado, não assustou a família. Nem mesmo o irmão, evangélico, deixou de dar força e torcer por ela.
— Ele é da igreja, recatado. Mas me elogiou e disse que sou exemplo. Na verdade, minha família não olhou essa oportunidade pelo lado da nudez, ficaram felizes porque sabem o quanto é difícil arrumar trabalho fixo nessa área. É um nu artístico. O corpo de um artista serve para cativar o público. E ser Globeleza é muito maior. Represento o carnaval do Brasil — afirma a mulata, que tem Valéria Valenssa, primeira modelo a ocupar o posto entre 1993 e 2005, como referência: — Ela é eterna. O jeito que olhava para a câmera era marcante e tinha um belo sorriso. Foi lindo quando ela desfilou grávida.
A relação de Erika com a dança, ela conta, começou aos 5 anos. Mas desde pequena, Kinha, como ela é chamada pelos familiares, tinha outros sonhos:
— Eu falava para minha mãe: “Quero ser dançarina ou doutora”. Sonhava em ser pediatra para poder ajudar as crianças especiais. De alguma forma consegui realizar isso com a fisioterapia — conta ela, que ainda não concluiu o curso.


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