Em pleno século XXI, o racismo midiático elabora e
reforça os preconceitos, legitimando a invisibilidade, a inferiorização e
a estigmatização da população negra nos meios de comunicação de massa
por Intervozes
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publicado
19/11/2013 13:35,
última modificação
19/11/2013 17:00
Por Cecília Bizerra Sousa
Hoje é véspera do 20 de novembro, Dia Nacional da
Consciência Negra. Dia em que Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi
perseguido e morto, no ano de 1695. Embora a data venha sendo lembrada
há tempos pelo Movimento Negro, apenas em 2003 foi reconhecida
oficialmente pelo Estado brasileiro, por meio da Lei n°10.639, que
inclui a data no calendário escolar nacional. E só em 2011 a presidenta
Dilma Rousseff sancionou a Lei n° 12.519, que cria oficialmente a data,
sem obrigatoriedade de feriado. Mesmo assim, um total de 1.047 municípios já decretou feriado para o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
Para além da reflexão sobre a contribuição que a população negra teve e tem na construção da sociedade, da economia e
da cultura brasileiras, a data serve também para lembrar que a
desigualdade racial é estruturante na formação da nossa sociedade, e que
o desenvolvimento de políticas de enfrentamento ao racismo e de
promoção da igualdade racial são primordiais.
E o que isso tem a ver com comunicação? Muita coisa.
Porque, se consciência negra tem a ver com enfrentamento ao racismo, e o
racismo é frequentemente produzido e reproduzido pelos discursos
midiáticos, não há como enfrentá-lo sem também reconhecer a necessidade
de mudanças na comunicação de massa no Brasil, tradicionalmente branca,
concentrada, de natureza familiar e elitista.
Como se não bastasse o histórico de escravização, que
tem notórios reflexos sobre a situação de inferioridade socioeconômica e
cultural em que a população negra brasileira se encontra hoje, esta
população ainda luta, em pleno século XXI, contra o racismo midiático, que elabora e reforça os preconceitos. Este racismo velado (ou não) atua
com primazia para reforçar a invisibilidade, a inferiorização e a
estigmatização da população negra brasileira nos meios de comunicação. A
negação da existência do racismo, que contribui para a sua reprodução,
também faz parte da forma de atuação desta grande mídia.
Em sua história de lutas, o Movimento Negro
Brasileiro conquistou grandes avanços institucionais, como as políticas
de ação afirmativa para a inclusão de negros e negras nas universidades e
a criação Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, um órgão com status de ministério
que, entre outras coisas, atua na formulação, coordenação e articulação
de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial.
Por outro lado, não é fácil esses avanços e políticas
se consolidarem se, no cenário midiático, o racismo é negado; negros e
negras representam papéis subalternos nos enredos; programas evangélicos
demonizam as religiões de matriz africana; a publicidade vende como
nunca a mulher negra; revistas e comerciais exaltam o padrão de beleza
eurocêntrico e vendem a família branca, urbana e de classe média como
ideal de felicidade.
Não à toa, diversas propostas de legislação e
políticas públicas vêm surgindo como fruto do aprofundamento dos debates
envolvendo a questão racial e a comunicação. O Estatuto da Igualdade
Racial conta com um capítulo sobre Comunicação Social. As três edições
da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) e a 1ª
Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) aprovaram resoluções que
recomendam políticas públicas de comunicação voltadas para o combate ao
racismo e a promoção da igualdade racial. Destaca-se também a presença
de artigos contemplando a questão racial no Projeto de Lei de Iniciativa
Popular da Mídia Democrática, formulado pelo Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação em conjunto com diversas outras entidades
da sociedade civil, diversas diretamente ligadas à pauta racial.
A democratização da comunicação é, portanto, questão
estratégica e fundamental para o enfrentamento ao racismo e a
consolidação das políticas de promoção da igualdade racial no Brasil.
Continua urgente uma regulação que coíba o racismo de fato na mídia, que reavalie a manutenção de concessões de rádio e TV que praticam o racismo em sua programação,
que garanta o direito à diversidade étnica na mídia e a uma formação
que incorpore o debate sobre a questão racial nos cursos de Comunicação
Social.
Sem uma mídia que se comprometa com a afirmação da
diversidade da população brasileira e com o caráter público da
comunicação, a negação do racismo, a inferiorização, estigmatização e
invisibilidade da população negra continuarão presentes na pauta, nas
linhas, imagens e discursos da mídia brasileira.
* Cecília Bizerra Sousa é jornalista,
mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de
Brasília, militante do Movimento Negro e integrante do Intervozes.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/enfrentamento-ao-racismo-e-consciencia-negra-e-a-comunicacao-com-isso-6574.html
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