Até que os negros
contem suas próprias histórias, a história sempre irá favorecer
o branco
Karina da Silva Pinto
Refletir sobre a afirmação de enquanto o negro não pode contar
sua história é sobre a égide do branco que se reproduz, não se remete
apenas àquela lecionada na escola. Para além dela, também engloba
a transmitida culturalmente. Não que pretendo ser maniqueísta nessa
sentença, entretanto existem muitos ingredientes para desacreditar
na hipótese que a omissão e o desprezo à tradição negra sejam apenas
pequenos equívocos, lapsos de memórias.
O racismo impregna a trama social que, além de acarretar as distâncias
sociais entre negros e brancos, tem provocado à percepção de
que esse fosso é natural, portanto, a-histórico. Nos pequenos atos
cotidianos, reproduzimos frases, práticas sociais, emissão de sentenças,
de modo quase indiferente, que na verdade são clivados por valores
morais construídos socialmente, portanto aprendidos.
Nascemos brancos, negros, indígenas e etc., biologicamente a cor não pode ser mudada, mesmo com os avanços tecnológicos na área da estética e beleza ainda são incapazes de alterar carga genética.
Nascemos brancos, negros, indígenas e etc., biologicamente a cor não pode ser mudada, mesmo com os avanços tecnológicos na área da estética e beleza ainda são incapazes de alterar carga genética.
Entretanto, desde a tenra idade as socializações promovidas pelas
diversas Instituições sociais como escola e família, ensinam sutilmente
quais são as parcelas da sociedade que são marginalizadas e as posições
que ocupamos na estrutura social. A reprodução social apresenta um
padrão de exaltação ao homem branco, como portador da modernidade
e protagonista, enquanto o homem negro é arcaico e coadjuvante.
E dentro da subalternização há um emaranhado de vetores, que
não só incorporam a questão de Raça como mesclam outros fatores
de desigualdade que se opera contra o corpo dos indivíduos, como as
mulheres. As questões de Gênero e Raça apresentam muitas similaridades,
nascemos naturalmente homens ou mulheres, mas no decorrer da formação
das sociedades, principalmente a industrial, acabaram por gerar a dominação
do homem sobre a mulher.
É interessante observar que, apesar das inúmeras conquistas nas
últimas décadas das mulheres, a realidade social das negras ainda
é diferente das demais. Enquanto, a competitividade no mercado de trabalho,
o conflito entre a necessidade de dedicação profissional e o tempo
para constituir e cuidar da família são os temas de algumas mulheres
brancas que pertence à classe média, o ingresso no mercado ainda é
um desafio para as mulheres negras, exceção para as funções sem
qualquer qualificação.
Assim, como a violência doméstica contra as negras merece destaque,
mesmo com a promulgação da Lei Maria da Penha (lei número 11.340/2006),
recentemente, que endurece a pena daqueles que cometem a violência
contra a mulher, o fato é que as negras ainda se constituem as principais
vítimas, tanto dos seus companheiros, que se utiliza do machismo, dependência
química e financeira para agredir fisicamente e psicologicamente. Da
sociedade que se negligência dos aspetos de âmbito privado, principalmente
das negras e pobres que são rotuladas como sem-vergonhas, que gostam
de apanhar.
E finalmente do poder público, por às vezes expor às atendidas
vexatoriamente, como nos casos de violência sexual. No decorrer do
meu trabalho já ouvi um relato de uma pessoa que ao tentar registrar
queixa teve de ouvir do policial que o marido dela como provedor da
casa estava no gozo de seus direitos e era para ela ter vergonha de
prejudicar deliberadamente um pai de família.
Apesar da violência doméstica não só se apresentar em uma
camada social especifica, no caso das mulheres negras, além da necessidade
de superar a dependência afetiva, implica nas dificuldades de sustentabilidade
para si e seus filhos e ainda ter que encarar a tradição que banaliza
essa situação.
Dentro desse grosso caldo cultural brasileiro, perdemos de vista a referência positiva da mulher negra na história, as personalidades femininas dos séculos passados muitos se limitam as pertencentes às religiões afro-brasileiras ou que impulsionaram o carnaval. Todavia, no mote atual apresentam tímidas ascensões em algumas áreas, como esporte e entretenimento, a maioria ainda engrossam os índices de pesquisas sobre pobreza, violência intra-familiar e motarlidade materno-infantil.
Dentro desse grosso caldo cultural brasileiro, perdemos de vista a referência positiva da mulher negra na história, as personalidades femininas dos séculos passados muitos se limitam as pertencentes às religiões afro-brasileiras ou que impulsionaram o carnaval. Todavia, no mote atual apresentam tímidas ascensões em algumas áreas, como esporte e entretenimento, a maioria ainda engrossam os índices de pesquisas sobre pobreza, violência intra-familiar e motarlidade materno-infantil.
Em suma, nada é isolado, a cultura e a história sobre designações
errôneas contribuem para a construção de um quadro depreciativo sobre
a questão de Gênero e Raça. Os afro-brasileiros que sofreram a escravidão
no Brasil lembravam laconicamente das histórias de suas terras, das
tribos, dos heróis, o sincronismo e religiosidade propagavam suas raízes
e impulsionavam a luta contra a opressão em prol da liberdade. E hoje
à falta de otimismo e a distorção da história sobre o negro, fomenta
a descrença de um futuro melhor. E dentre uma das estratégias para
superar esse quadro imposto, aponto na transversalidade das ações,
para abranger desde os pequenos atos cotidianos a estrutura, aliando
os movimentos sociais, Organizações Não-governamentais, governos,
sociedade civil, imprensa, comunidade acadêmica e entre outros. E principalmente
identificar nas representações simbólicas partilhadas socialmente,
presente desde os materiais didáticos escolares e até nas relações
sociais em geral, que contribuem para legitimar uma raça sobre outro(s),
um gênero sobre o outro.
Assistente Social
Assistente Social
Conselheira Municipal de Assistência Social de São João de Meriti.
Atuante nos ações em prol de Gênero e Raça na Baixada Fluminense
Atuante nos ações em prol de Gênero e Raça na Baixada Fluminense
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