quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Fora, Zumbi!

Diogo Mainardi

"A luta contra o racismo não se
dá glorificando
a figura de Zumbi
nos livros escolares, mas ensinando
que
os brancos são negros e os
negros são brancos"
Como Macunaíma, nascemos pretos e fomos embranquecendo à medida que nos afastávamos de nossa terra de origem. É o que ensina Genes, Povos e Línguas, do geneticista italiano Luigi Luca Cavalli-Sforza. Ele analisou mais exames de DNA do que o Ratinho. E, ao contrário do Ratinho, não usou o resultado dos exames para vender mais xampus contra piolho, e sim para traçar um mapa da evolução humana. Seus estudos demonstram que nossos conceitos de raça são uma empulhação. Não existe preto, branco nem amarelo. Ou dividimos a humanidade em mais de 1.000 etnias e línguas, ou acabamos com a classificação por raças, admitindo que somos todos parentes. Os primeiros homens surgiram na África. Tínhamos a pele preta porque ela servia de proteção contra o sol equatorial. Os cabelos eram encarapinhados para reter o suor e resfriar a cabeça. Quando começamos a nos espalhar pelo mundo, 100.000 anos atrás, nossas características físicas foram se adaptando às novas condições climáticas. Quem se mudou para a Europa ficou com a pele branca para captar melhor os raios ultravioleta e suprir a carência de vitamina D. As narinas se estreitaram para aquecer o ar antes da chegada aos pulmões. Os que migraram para o Oriente ganharam dobras adiposas em volta dos olhos para se proteger dos gélidos ventos siberianos. Debochamos muito de Michael Jackson, mas nossos antepassados sofreram as mesmas transformações que ele. Um sueco é um sudanês subnutrido. Um mongol é um pigmeu com frio.
O presidente Lula nomeou uma ministra para combater a discriminação racial. Ela é negra. Teria sido melhor se fosse branca, para mostrar que a discriminação racial não é nociva apenas para os negros, mas para a sociedade inteira, inclusive para os brancos. A ministra defende a política de cotas adotada nos Estados Unidos. É a lógica do gueto. Eu tentaria inverter a questão, extinguindo não só a discriminação racial, mas o próprio conceito de raça. Não é tão difícil assim. Quando eu era pequeno, a escola ensinava que nossos índios pertenciam à raça vermelha. Certo dia, mudou-se de idéia e passou-se a ensinar que, na verdade, a raça vermelha não existia, porque os índios eram amarelos que tinham atravessado o Estreito de Bering 32.000 anos atrás. Seguindo o mesmo raciocínio, a raça amarela também não existe, tendo sido formada por africanos que migraram para a Ásia 100.000 anos atrás. E a raça branca, constituída por asiáticos que se mudaram para a Europa 43.000 anos atrás, é outra ficção genética. Hoje em dia ninguém mais fala em raça vermelha. Seria igualmente correto que ninguém mais falasse em raça negra, branca ou amarela. O melhor jeito para acabar com o racismo no Brasil é eliminar o critério de raça. O movimento negro sempre lutou para que os negros se orgulhassem da própria cor. Eu aboliria essa idéia. Aboliria o Dia Nacional da Consciência Negra, a política de cotas, as ações afirmativas. Aboliria também o mito da miscigenação racial brasileira.
Quando se considera toda a história da humanidade, os alemães são tão miscigenados quanto nós. Raça é uma noção arcaica. Não tem base científica. A luta contra o racismo não se dá glorificando a figura de Zumbi nos livros escolares, mas ensinando que os brancos são negros e os negros são brancos.

Fonte: http://veja.abril.com.br/070503/mainardi.html 

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