Livro debate o racismo presente na educação brasileira |
20 de novembro de 2013 | |
É inegável
que a escola desempenha um papel importante na desconstrução do preconceito e
da discriminação racial. Contudo esse ainda é um cenário utópico pois, na
realidade, muitas das desigualdades sociais e econômicas existentes entre
negros e brancos são geradas na própria escola. Dois professores do
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Rosângela
Rosa Praxedes e Walter Praxedes, ampliam as discussões em torno desse tema no
livro Por uma escola livre do preconceito
e da discriminação racial, que será lançado em janeiro do ano que vem pelas
Edições Loyola.
Segundo os professores, que
são integrantes do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros da
UEM, “a educação escolar
pode ser considerada uma dimensão fundamental das desigualdades entre brancos e
negros no Brasil, pois muitas dessas desigualdades se originam nos obstáculos
encontrados pelos estudantes negros ao longo de sua trajetória acadêmica para o
acesso à educação de qualidade”. É necessário
ter em mente que o racismo sofrido dentro do sistema escolar pelos estudantes
negros gera consequências danosas para o processo de formação educacional,
capacitação profissional e construção da identidade desses sujeitos. O que contribui
para reforçar as estatísticas de evasão escolar, cujos índices, em todos os
níveis e graus de ensino, referem-se sobretudo a representantes da população já
marginalizada de modo geral, em especial os negros.
Walter
Praxedes chama a atenção para a importância da adoção das políticas de ações
afirmativas em favor da igualdade racial, como a Lei nº 10.639/2003, que
institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira no
currículo, por exemplo. Além da polêmica reserva de vagas ou cotas para
estudantes negros no ensino superior.
O livro
também apresenta uma discussão sobre os fatores históricos que contribuíram para
a difusão de preconceitos racistas e a exclusão dos negros em todo o País.
Nesse debate ele aponta, por exemplo, o processo abolicionista e a política
imigratória implementada pelo Estado brasileiro com o intuito de promover o ‘branqueamento’
da população. Ações que tiveram “o apoio de um minoritário, porém influente
movimento político e intelectual favorável à eugenia, ora condenando, ora
valorizando os processos de miscigenação, sob a alegação da inexistência de
preconceitos raciais em um país que pretensamente se construiu como uma ‘democracia
racial’, na qual estavam ausentes as relações de animosidade e de violência
entre brancos e negros”.
Aspectos
teóricos, sociológicos e antropológicos sobre a formação dos preconceitos também
permeiam os debates segundo os autores, lembrando que esse olhar se dá a partir
de uma crítica à filosofia e às ciências, que em vez de contribuir para a
igualdade e a emancipação humanas formulam, difundem ou legitimam um conjunto
de representações negativas, preconceituosas e grosseiras sobre os seres
humanos através de obras filosóficas, científicas e literárias eurocêntricas
pretensamente “universais”.
“Para
entendermos os equívocos racistas da educação escolar na atualidade foi
necessário, ainda, colocar em nosso percurso uma discussão sobre as
especificidades das formas de classificação racial comumente utilizadas no
Brasil e que deram origem ao chamado ‘racismo à brasileira’, criticado graças
ao trabalho teórica e politicamente consistente de pesquisadores das relações
raciais no Brasil”, salienta o autor. Ao
apresentar esse cenário o livro deve dar uma contribuição ao que os autores
chamam de prática de uma pedagogia antirracista. “Para não sermos cúmplices ou
negligentes diante do racismo, temos discutir sobre as concepções e práticas
nascidas no passado e que continuam colocando obstáculos para a formação de uma
educação emancipadora, livre dos efeitos dos preconceitos e da discriminação”,
sintetizam.
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